Um dia eu estava ouvindo uma música, ela falava de amor, coisa e tal, ou algo do tipo.
Falei de como a letra era interessante, que o cara expressava o que realmente sentia e como aquilo era magnífico.
Meu amigo virou pra mim e disse
“Não acredita nisso não, Juca. A maioria deles nem seguem o que dizem, eles só fazem pra vender.”
Por um tempo me debati sobre aquela frase, tentava crer que o que ele falou era uma mentira, quando na verdade o cara era um tremendo de um realista.
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A meritocracia
“Oh, ilusão, doce ilusão, até quando irá atordoar-me os pensamentos?
Até quando irá trazer pra mim o que não existe me fazendo penar em trapos finos e deselegantes, acreditando estar trajando ouro ou mais belo bordado de couro?”
A meritocracia, a ilusão do século XXI. Enquanto poucos (realmente muito poucos) conseguem sair de um estado de calamidade, para um estado meramente “oportuno”, estes se tornam vítimas de uma situação que os fazem se sentir como merecedores daquilo que nunca tiveram.
Eles não são merecedores?
Ora bolas, mas é claro que são.
“Um rapaz, saído do lixão, consegue ingressar à faculdade por esforço próprio de estudos.”
Nossa, virou notícia. Agora está no jornal, circula em todos os cantos. “Garoto sai do lixão e ingressa na melhor universidade do Brasil”. Vamos pegar isso e tornar como senso comum. Tudo está certo, como pode estar errado? Vejam, se ele conseguiu, todos conseguem!
Meus parabéns para quem pensa assim, merece uma salva de palmas, mas apenas uma, como dizia um velho professor meu.
O que a crença na meritocracia faz, além de iludir todos aqueles que vivem num mesmo sistema, de que podem conseguir algo se simplesmente tentarem?
Enquanto milhões estão vivendo a mesma situação do garoto do lixão, ou ao menos situação parecida, porque pegar uma imagem única e tornar ele como merecedor daquilo por ter lutado para demonstrar que tudo está indo do “jeito certo” você apenas precisa “se adaptar”.
Não, a meritocracia não mostra que está tudo indo certo, apenas nos faz acreditar que o ruim ficou bom porque um conseguiu.
Vamos imaginar a seguinte situação:
Temos um plano de saúde no brasil que é geral, atende a todos. Sim, estou falando do SUS. Sistema Único de Saúde. Todo mundo tem acesso a esse plano, maravilha. Vamos agora ao hospital.
O hospital, possui duas alas, uma para o atendimento geral, outra para o particular.
Chego lá com meu cartão de plano de saúde particular, obviamente, eu mereço, sou um cara rico. Passo na frente de todos aqueles que possuem o cartão SUS. Todos me olham, pasmos, mas pensam: “Ele é merecedor, é um cara rico”.
Aceitam sua situação e o pior, pensam: “Preciso ficar rico para merecer algo assim.”.
Parabéns, oh, meritocracia. Não queira eu, é claro, acreditar nisso.
De colher o que plantou
-Vamos lá, vamos para a colheita. Está na hora de ver a cor das frutas.
-Espera aí, o que é isso?
Um verme tinha se alimentado de todas frutas que agora estavam podres
e foram jogadas no lixo.
É de se pensar que a colheita será boa que se plantam as coisas. Sinceramente, você não pode plantar algo e esperar que sempre venha algo bom, ou exatamente aquilo que plantou.
Esteja preparado para plantar feijões, e vê-los morrer, de vez em quando.
Esteja preparado pra colher frutas que não irão vingar.
É triste pensar que as coisas são assim, mas elas são na maioria das vezes.
Saiba, que você irá sempre colher o que plantou.
Mas que nem sempre a colheita será satisfatória.
