Sandalem – A imposição do pensamento

Conto em construção.

Iniciado em 04/03/2014.

Sem previsão para finalização e no momento “pausado”.

O conto se passa em uma época muito antes da existência dos conceitos para muitas coisas, palavras como “felicidade” “hierarquia” e muitas outras sequer existiam. A história é sobre a origem de uma grande civilização chamada Sandalem.
O líder de uma pequena comunidade, diz ter feito uma grande descoberta, e decide impor as suas vontades para os membros da comunidade. Aqueles que não seguissem as regras impostas seriam tidos como rebeldes e não-reconhecidos pelos outros membros da comunidade.
É então que começa a se generalizar um efeito dominó de causa-efeito e coisas inesperadas passam a acontecer por causa da decisão tomada pelo líder. A história se desenvolve inicialmente em meio a calmaria, passando para o caos, a desordem total e a destruição.

A história é dinâmica, tudo muda em pouco tempo e nos leva a questionamentos interessantes.

Os capítulos ainda estão em desenvolvimento e irei postar a medida que escrever. Estão disponíveis por enquanto os seguintes capítulos :

Capítulo 1

-Meus amigos, descobri hoje o que é a felicidade

A plateia perplexa que assistia sentada em pedras retangulares observou o líder a falar.

-Felicidade é ter filhos! Felicidade é casar! É ser alguém na vida, trabalhar e traze o sustento pra casa.

-Mas…porque isso é felicidade? -Perguntou um rapaz que ouvia o discurso.

-Bom, isso é felicidade porque eu sou feliz assim,  e vejo que todos vocês são infelizes.

-Somos infelizes? -Disse uma mulher- Mas o que isso significa? O que é ser feliz?

-Ser feliz é justamente isso que eu acabei de falar – disse o líder não sabendo explicar ao certo aquele novo conceito que tinha acabado de criar. E por isso vocês são infelizes.

Todos naquele local, até o momento, não se preocupavam com o que era ser feliz ou não, apenas viviam as suas vidas calmamente como qualquer outro. Sentavam nas pedras para observar o céu, observavam o mundo e a natureza ao seu redor, interagiam uns com os outros, mas nunca se perguntavam se suas vidas eram ou não boas assim.

Alguns outros simplesmente iam embora, em busca de algo novo e diferente, talvez de encontrar novas pessoas, ou um novo lugar. Amavam o desconhecido e por isso não ficavam ali sentados como os outros. Queriam ver algo além do céu, atravessar o mar e saber se existia algo por lá, escalar montanhas pra descobrir o que tem no topo, eram curiosos por natureza, mas nunca se perguntaram se suas vidas eram boas ou não.

-A partir de hoje, vocês precisam ser felizes, assim como eu sou- Continuou o líder a falar. – Como líder desta comunidade, eu determino que pra todos vocês serem felizes, precisam buscar o seu sustento, trabalhar, encontrar alguém pra viver para sempre ao seu lado, ter filhos e filhas com essa pessoa e vê-los crescer, depois vocês terão que ver os seus netos crescer e quando a hora chegar, vocês descansarão em paz, sabendo que foram felizes durante a vida.

-Aqueles que não seguirem estas determinações, não serão bem vistos pelos outros membros. Serão reconhecidos como rebeldes na comunidade, não serão expulsos, porém o trabalho e o sustento será mais difícil de ser encontrado, você irá observar todos os outros sendo felizes e você não. Irá observar os outros tendo e criando filhos, tendo e criando os netos. Crescendo na vida, se tornando alguém reconhecido por toda a comunidade.

Até aquele momento, o reconhecimento não era importante para ninguém. Todos seguiam as suas vidas normais, todos se conheciam e todos se respeitavam, mesmo assim eles não pensavam sobre isso, eles não tinham o que pensar sobre. A vida era simplesmente assim: simples. Ninguém precisava ser mais reconhecido que o outro, ninguém era considerado rebelde. Aqueles que fugiam e iam embora para os montes, eram abraçados por todos da comunidade, alguns choravam durante a despedida, mas entendiam que o outro possuía essa necessidade dentro de si de conhecer o mundo, pois nem todos são iguais e as necessidades de todos são diferentes. Como sempre, eles não pensavam a respeito disso, não pensavam sobre igualdade, nem diferença, apenas viviam as suas vidas.

-Com essa nova determinação, nossa comunidade irá crescer, caso encontremos outras comunidades, seremos reconhecidos como uma comunidade respeitável! Uma grande comunidade que se desenvolve de forma feliz.

Capítulo 2

Todos concordaram com o líder. Decidiram que essa tal de “felicidade” era realmente boa, não parecia ser ruim ter que trabalhar para ganhar o sustento, parecia até ser “justo”, palavra que usaram para definir quando algo valia a pena e fazia sentido. Também não era ruim achar alguém pra viver pra sempre, ter filhos e netos… na verdade muitos deles já faziam isso, só que antes não se perguntavam se era bom ou não, a maioria deles ouviu o discurso lado dos filhos e com a pessoa que gostavam de estar. 

Porém, agora eles sabiam, graças ao líder, que isso era algo bom. Sabiam que teriam que fazer isso para ser felizes, agora não era simplesmente um “estilo de vida” como ir para longe do grupo, agora era também um motivo de reconhecimento e de não afastamento. Não era mais “o normal” fazer isso, agora era obrigatório. Aqueles que não fizessem seriam rebeldes e ninguém gostaria de ser visto pelo grupo como um rebelde.

Então, de repente, todos sentiram um desejo de encontrar alguém, de ter filhos, de trabalhar pra conseguir o sustento da casa.

Surgiu então a necessidade de se criar algo para troca, se um ganhava algo que o outro queria por meio do trabalho, era necessário que  o outro desse algo em troca para receber. O sistema antigo de compartilhamento em pouco tempo entrou em decadência, nada mais era compartilhado e a troca se intensificou, chegando a serem criados pontos de troca para adquirir rapidamente alguma coisa.

Em pouco tempo a comunidade cresceu, estava superpovoada e nem todos conseguiam ser felizes, nem todos conseguiam casar e trabalhar e por isso eram vistos como rebeldes pela comunidade.

Decepcionados, começaram a sair pouco a pouco e ir em busca de um lugar onde pudessem se tornar felizes, tentaram acompanhar aqueles que iam para as montanhas e, observando isso, o líder da comunidade se revoltou e decidiu fazer um novo discurso. Chamou todos novamente para o local das pedras, que agora era um local fechado e com muros ao redor, apenas para esse tipo de discussão, uma discussão direta com o líder.

-Meus amigos e amigas e todos que estão aqui presentes, gostaria de lhes fazer um novo comunicado.

O barulho estava insuportável, muitos estavam sentados, mas alguns estavam em pé reclamando do calor que estava fazendo. Outros reclamavam que não conseguiam ouvir claramente o líder e alguns simplesmente não sabiam porquê tinham que ser obrigados a estar ali.

-Silêncio! Como todos sabem, sou o filho do antigo líder desta comunidade. Não posso tolerar esse tipo de comportamento. Meu pai me passou os seus ensinamentos, e por isto, sou agora o novo líder e vocês me devem respeito e atenção. 

Tendo falado isso em um alto tom, todos se silenciaram e tentaram encontrar uma forma confortável de ouvir o que o novo líder tinha para falar.

-Estamos sendo afetados pela saída dos membros da cidade. Os que saem daqui estão se alojando em algum outro lugar, disso não tenho dúvidas. Eles acreditam que existe alguma outra maneira de ser feliz, talvez em um outro lugar. Mas meu pai, ele criou a felicidade. E como todos sabem, temos nossa própria definição de felicidade e ela só pode ser encontrada aqui.

-Gostaria que todos vocês soubessem que é impossível ser feliz em outro lugar. Por isso decidi, que todo aquele que sair da comunidade, mesmo já sendo rebelde, este será perseguido e aprisionado. Precisamos de pessoas aqui para trabalhar, mesmo que recebam pouco por isso. Portanto, não podemos deixar que saiam assim, muito menos sem um motivo ou aviso prévio. Sendo assim, é o que eu determino hoje.

-E não só isso – acrescentou- defino também que aqueles que saem por “motivo de curiosidade” ou para observar o mundo afora, deverão voltar, ou também serão perseguidos e aprisionados. Quando voltarem, um relatório terá que ser entregue, informando o que viram por lá e se encontraram fugitivos, ou alguma outra comunidade que não seja a nossa. Precisamos disso para que haja a felicidade e para que ela se espalhe.

Tendo dito isso, todos concordaram mais uma vez.

Muitos foram perseguidos e aprisionados, os que eram presos ficavam isolados da sociedade para se “recuperar”, pensar sobre o que fez e quando aceitasse o que era ser feliz, poderia voltar para a comunidade, porém ainda assim seria reconhecido como rebelde e pra piorar, fugitivo. Esses então passaram a não encontrar nenhuma outra forma de trabalho. 

Para trabalhar agora, era necessário ser contratado por alguém que tinha algo para lhe dar, não era mais apenas plantar e colher, como no começo. Muitas vezes essa pessoa não fazia uma troca considerada “justa”, dando muito menos a pessoa que trabalhou e ficando com a maior parte.

Decidiu-se chamar assim de “lucro”. Todo dono de terras, todo proprietário e todo empregador, teria direito ao lucro. O seu empregado receberia uma pequena parte e o dono ficaria com o restante, pois precisaria pagar também a outros empregados e ainda ter o seu sustento e da sua família. E é claro que ele merecia ficar com mais do que os outros, o estabelecimento era dele e ele podia fazer o que quisesse.

Capítulo 3

Após uma invasão de animais, como leões e elefantes, que acabaram destruindo grande parte dos estabelecimentos e dos donos, perceberam que seria necessário acima de tudo pessoas treinadas para proteger a comunidade. Os treinados foram conhecidos como “soldados”, os que morressem em batalha teriam garantido o sustento para sua família pelo resto da vida destes, os que continuassem vivos seriam reconhecidos como protetores oficiais da comunidade. Um título digno de respeito, poderiam impor a sua vontade aos que não tivessem o título, poderiam prender e bater caso alguém fizesse algo errado, e então o treinamento começou.

As invasões seguintes não foram um grande problema, poucos soldados morreram e nenhum estabelecimento foi destruído. Porém, as pessoas que estavam decepcionadas por não conseguir ser felizes estavam aprisionadas na comunidade. Não poderiam fugir e se fugissem teriam que voltar. Não conseguiam trabalhar, não conseguiam emprego, não poderiam ser soldados respeitados.

Foi então que passaram a pegar escondido e não devolver, o que ficou conhecido como “roubar” e os que roubavam eram conhecidos como “ladrões”.

O número de ladrões não parava de crescer, a cidade estava um caos e superpovoada, não havia mais espaço para tanta gente, não havia mais segurança, não havia trabalho para todos e muito menos alimento.

Os soldados eram comandados a eliminar as escondidas os que vissem roubando e matar os famintos para que não surgissem novos ladrões. Os miseráveis que andavam pela comunidade eram também um problema, estavam deixando a cidade feia pois dormiam pelos chãos. Eram então sem nenhum motivo, presos ou enviados para uma ilha distante e deserta.

Observando todos os problemas que estavam surgindo, principalmente o de superpovoamento e da falta de alimento o líder estabeleceu uma nova reunião, o local onde antes haviam pedras, depois muros, agora estava modernizado. Existiam bancos com o melhor tipo de madeira até então conhecido e nenhum membro estaria de pé.

Os membros que agora ouviriam o discurso, não eram mais os moradores simples da cidade, pois agora existiam muitos deles, as pessoas que ouviam o discursos eram agora “representantes da população”. Eles estavam ali para ouvir pelo povo e tomar as decisões pelo povo. Mas é claro, nunca era pelo povo que eles o faziam, nunca era pela comunidade, simplesmente aceitavam o que o líder tinha a dizer, por medo do grande número de soldados que o seguia e obedecia.

-Membros do conselho da comunidade, os convoco aqui hoje para falar sobre os problemas que nos aflingem.

Todos pareciam muito atentos ao que o líder tinha a dizer, mesmo não estando.

-Nossa população hoje se encontra em miséria, não podemos continuar assim. Os viajantes me trouxeram relatos de outras três comunidades se formando ao nosso redor, porém eles não possuem a mesma ideologia que nós, assim como não são “desenvolvidos”, não possuem soldados e nem grandes estruturas como as nossas. Porém eles possuem tudo que nós precisamos. Eles possuem alimento e espaço e eles podem nos fornecer.

-Como eles podem nos fornecer o que têm, ó temeroso líder? Disse o membro mais velho do conselho.

-Eles podem nos oferecer através da força. Caso não obedeçam fornecendo os alimentos que precisamos, ou o que nós quisermos, nós podemos utilizar nossos soldados para pegar deles. Mas acredito que o simples medo dos soldados batendo as suas portas os farão entregar tudo o que têm para permanecer vivos.

-Você pretende matar estas pessoas que nada fizeram a nós? Disse ainda o ancião.

-Não, como eu disse, não pretendo matar ninguém. Mas se eles não derem o que precisamos, não terei outra opção. Nossa população está faminta e em crescimento, não podemos deixar que isso continue assim, precisamos cuidar dos nossos, da nossa comunidade. O que acontece às outras comunidades não nos importa.

-Membros do conselho – Disse o ancião – Isso é um absurdo, não ouçam o que ele está dizendo. Como podemos atacar pessoas inocentes e que vivem em lugares tão distantes só porque não encontramos alimento para nós mesmos? Isso é um tremendo egoísmo, podemos tomar outras medidas como diminuir o número de filhos por casal, podemos fazer qualquer outra coisa como…

-Louco! Este homem é um louco! Como podemos diminuir o número de filhos de uma comunidade em crescimento? Não há nenhuma outra medida, é muito mais simples levar os nossos soldados e conquistar o que precisamos do que ter que produzir em uma terra que já não é mais tão fértil.

-Não podemos aceitar, existem outras…

Antes que terminasse de falar, os soldados entraram na sala a mando do líder, pegaram o ancião pelos cabelos brancos e longos e o puxaram para fora da sala de reuniões atirando-o no chão na frente de todos os seus familiares. Ele se pôs a chorar e antes que pudesse falar algo o soldado enfiou uma lança em seu coração.

Temendo o acontecido, todos os outros concordaram com a nova proposta do líder

Capítulo 4

A população foi advertida pelo líder para tomar cuidado com os membros das outras comunidades, estes foram tidos como bárbaros assim como suas comunidades foram reconhecidas como comunidades perigosas onde ninguém deveria ir ou passar por perto.

Após a advertência, o líder reuniu os seus soldados e deu para um deles o cargo de capitão dos soldados, e cada grupo de soldados teriam um capitão, os grupos de soldados foram conhecidos como “pelotões” e o grupo de pelotões foi reconhecido como “tropa”.

Tropas foram enviadas para uma comunidade bárbara, e lá chegando, o  capitão deveria falar com o líder da comunidade invadida.

O líder da primeira comunidade, vendo a chegada das tropas se assustou. Esta foi a última comunidade a ser formada, o seu líder foi uma vez morador de Sandalem, nome que foi definido para comunidade inicial que possuía tropas, pelotões e soldados.

Este líder, conhecendo Sandalem, sabia que aqueles soldados não estavam ali com um bom intuito, e vendo a sua chegada fugiu rapidamente para além das montanhas. Após um longo tempo de espera, o líder não apareceu e todos os moradores da cidade estavam escondidos.

Os soldados então invadiram as casas, perguntando onde estava o líder. Eles diziam não saber e então eram assassinados. Casa a casa invadiram e mataram pessoas, não encontraram ainda assim o líder. Depois de todos os moradores da comunidade terem sido friamente assassinados, eles roubaram os seus alimentos estocados e levaram dias para recolher tudo, pois eles haviam produzido muito. Dia a dia, pouco a pouco traziam alimentos para comunidade. Isso resolveu por um tempo o problema de alimentação na cidade, a fartura era tão grande que até os pobres e miseráveis não estavam mais famintos.

Isso é claro, não durou muito tempo.

Os alimentos começaram a apodrecer na comunidade bárbara, pois nada mais era produzido e nada mais era bem guardado.

O líder então, juntos com os soldados, os membros do conselho e parte da população, visitaram o local. Após  alguns limparem todo o sangue do local, remover todos os alimentos podres do estoque e fazer uma limpa completa na cidade, o líder deu as seguintes ordens.

– Dez soldados devem proteger a saída esquerda da cidade e outros cinco devem ficar na saída direita. O norte é protegido por muralhas, e o sul, com essa densa mata, não precisa de proteção e sim de um muro reforçado. A saída direita leva a nossa comunidade de Sandalem e a saída da esquerda leva para outras comunidades de bárbaros. Para evitar invasões, protejam a esquerda. Para proteger os animais de carga e a população que chega a cidade, protejam a direita.

-Esta comunidade agora será conhecida como Icor, pois morreu e renasceu pelo sangue de seus membros, nossa população agora será transferida para cá assim como parte dos membros do conselho. Todos que aqui morarem devem produzir e enviar parte para Sandalem. Icor será de grande ajuda para o crescimento da nossa comunidade e para todos nós nos tornarmos felizes.

Gerente de Marketing e escritor nas horas vagas. Este é o meu blog pessoal que utilizo como hobby, "arquivo de memórias" e utilidade.

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