Conto em construção.
Iniciado em 07/08/2014.
Sem previsão para finalização e no momento “pausado”.
Capítulo 1
Primeiro Dia
A rua da minha casa desapareceu. Sim, ela sumiu do nada. Simplesmente fui tomar café, escovei os dentes e quando estava me arrumando pra ir à faculdade ela não estava mais lá, tudo que havia no lugar onde deveria ser a rua era um enorme buraco.
Não entendi nada, fiquei na porta da casa e olhei ao redor, todos meus vizinhos faziam a mesma coisa, estavam olhando perplexos para o buraco. Ali mesmo da porta tentei ligar pra polícia, o telefone tocava e tocava sem parar, mas ninguém atendia. Nem polícia, nem bombeiros, ninguém.
Perguntei então ao vizinho da frente o que havia acontecido, ele disse que não sabia de nada e que não ouviu barulho nenhum. Imagina que estranho, eu ali da porta de casa e o vizinho da frente, também na porta da casa dele, olhando para um abismo sem fim e, mesmo com a claridade do sol, o buraco era completamente escuro.
Ninguém em casa parecia saber disso ainda, alguns colegas meus estavam por lá dormindo, tínhamos feito um trabalho cansativo da faculdade. Minha família e eu moramos todos na mesma casa, mas não é bem uma “casa” é uma espécie de vila com várias casas. A minha era a segunda, mas ficava de frente pra o portão da vila.
Voltei, entrei em casa, não comentei nada com ninguém. Sentei no computador e fui direto pesquisar. A pesquisa foi a seguinte “a rua da minha casa desapareceu”. Pra minha surpresa, a internet estava funcionando. Milhões de artigos apareceram na tela em poucos segundos, artigos em inglês “the street of my house have disappear” e até mesmo blogueiros que diziam saber exatamente como consertar as ruas, só precisariam de um depósito na conta de uns 10 reais. Se alguém tivesse como ir ao banco pra colocar o dinheiro, provavelmente os blogueiros poderiam estar ricos nesse momento.
Depois de algum tempo, todos lá em casa já sabiam. Meus amigos ficaram animados, tiravam fotos do buraco, todo mundo acreditava que em algum tempo iam consertar, sei lá né, preencher com cimento todo aquele buraco. Ou talvez fosse só uma brincadeira de alguém que pintou a rua de preto, a gente ainda não tinha testado pra ver.
Então saímos e jogamos uma pedrinha de lá de cima. Ok, a pedra não bateu no que deveria ser o chão pintado de preto. Começou a descer… desceu um pouco mais e… sumiu de vista. Não ouvimos barulho nenhum.
Peguei um bloco, dessa vez daria pra ouvir. Atirei ele em outro lugar, não foi mais surpresa ver ele descendo, a surpresa foi não ouvir barulho algum novamente. Sumiu de vista da mesma forma que a pedrinha e não se ouviu nada, simplesmente nada..
Agora sim a alegria das fotos acabou de uma vez. Parecia ser realmente um buraco sem fim e não era nenhuma brincadeira. A polícia continuava sem atender o telefone, o que dava a entender que provavelmente não conseguiram ir pra o trabalho, pois não havia rua.
Nos reunimos todos em uma área lá de casa, minhas irmãs choravam, eu tentava manter a calma e meus colegas queriam a família de volta. Ao todo éramos onze pessoas, contando comigo. Minhas duas irmãs, meus dois colegas, minhas duas primas, minha vó, meu tio, minhas duas tias e eu. Conversamos sobre o que poderia ter acontecido, como poderíamos resolver, mas o principal ainda não tínhamos pensado: Como conseguiríamos comida?
Capítulo 2
Por volta das dezessete horas, um grupo de helicópteros começou a sobrevoar pela região, e de verdade, foram muitos. O barulho era insuportável e alguns estavam fazendo rasantes, voando muito baixo. Fui lá fora, chamei todos, começamos a gritar e pedir por ajuda, mas não houve reação por parte dos helicópteros que continuaram seguindo em frente. A explicação do que aconteceu pouco importava, só queríamos sair dali.
Mas ao que parecia, não devia haver nenhum lugar seguro. Provavelmente os helicópteros estavam estacionados dentro de alguma casa, ou um armazém, não no meio da rua. Mas vai que não? Vai que tinha algum lugar seguro pra onde eles estavam indo ou até mesmo levando as pessoas?
Depois de uns trinta minutos tentando chamar atenção, nada deu certo. Desistimos e logo percebemos que estávamos cansados e com fome, decidimos olhar a dispensa. Ninguém esperava um “apocalipse” repentino, muito menos dessa maneira, então ninguém pelo bairro deve ter feito armazenamento de comida. Bom, com exceção de nós. Minha família tinha o costume “diferente” de fazer compras sempre para o mês inteiro, naquele mês já tínhamos ido e ainda estávamos com metade do estoque. Era possível que ainda tivéssemos comida para quinze dias, mas a gente não esperava que os visitantes fossem passar tanto tempo…
Minha tia fez a janta, todos comemos muito pouco, estávamos assustados com a situação. Isso tinha que ser resolvido logo. Passei a noite inteira pensando, meus colegas dormiram cedo, antes de mim, mas eu não lembro nem a hora que dormi, só lembro de acordar com uma ligação…
Conto em construção, um capítulo todas as quintas.
Capítulo 3
Acordei com o terrível barulho do meu celular, odeio quando isso acontece. Atendi e era o meu irmão, fazia algumas semanas que ele não me ligava. Ele perguntou se o mesmo tinha acontecido com a minha rua e disse que estava recebendo suprimentos por helicóptero, pois ficou preso no trabalho, em uma plataforma no meio do mar.
Ele estava fazendo uma visita a uma plataforma de extração de petróleo e não ficou sabendo de nada, até receber também uma ligação do seu chefe informando que ele não poderia voltar. Ele me disse também que era pra gente se acalmar que os melhores engenheiros do mundo já estavam estudando o caso pra resolver o mais rápido possível.
Respondi tudo com “Hurrum”, “Tá bem”, “Certo”. Minha vó perguntou quem foi que ligou e eu disse que tinha sido meu irmão. Ela ficou muito ansiosa pra saber o que ele tinha falado, afinal, ele é o mais rico e também mais inteligente da família, mas quando eu disse que ele só sabia praticamente o mesmo que nós, ela ficou um tanto quanto decepcionada.
Levantei e fui direto pra porta, olhar se alguma coisa tinha mudado, mas tudo continuava da mesma forma, aquele buraco enorme e o barulho de pessoas conversando nas casas vizinhas. Quando estava voltando pra casa, ouvi um barulho forte como se alguém estivesse batendo no portão.
E realmente tinha alguém, mas ele estava atirando pedras no portão. Era o vizinho da frente que eu tinha visto no dia anterior, ele perguntou se eu tinha alguma notícia nova, eu disse que não. Então ele disse que morava sozinho há muitos anos e que se sentia solitário e blá, blá, blá… coisas que eu não queria ouvir, mas estava ali ouvindo por respeito.
Começou a falar sobre o pão que tinha acabado na noite anterior, pois ele não tinha feito compras e o estoque dele era basicamente de cereais e água, deixando a entender que estava sentindo fome. Eu não soube muito bem o que falar, disse que tínhamos comida, mas não muito. Estava com medo de que ele começasse a pedir demais e acabasse a comida da gente, pois éramos muitos e dependendo do tempo, talvez a gente fosse precisar do pouco que sobrasse, até mesmo as migalhas, quem sabe…
Entrei em casa e perguntei pro meu tio se a gente poderia dar um pouco de comida ao velho senhor, ele disse que no máximo um pão com manteiga e um copo d’agua. Mas aí eu lembrei que não tinha como chegar na casa dele. Voltei no portão e falei isso pra ele. Ele disse que não tinha problemas, pois ele tinha uma tábua grande que seria o suficiente pra que eu pudesse atravessar para o outro lado.
Pra infelicidade dele, eu morria de medo de altura. Ele colocou a tábua, e ela ficava lá balançando um pouco só de colocar o pé. Pensei em a vasilha com o pão de longe mesmo, mas poderia bater na parede e cair no buraco, pois a porta dele era muito estreita. Chamei meus amigos, Carlos e Jorge.
Carlos era baixo e magro, provavelmente a missão de atravessar a “ponte” e levar o pão seria dele. Já Jorge, era alto e forte, então tive a ideia de amarrar uma corda em volta da cintura de Carlos pra que Jorge pudesse segurá-lo caso fosse cair.
Carlos subiu na tábua e na mesma hora ela começou a pender pro lado esquerdo, Jorge ficou com medo e puxou Carlos pra dentro com força, fazendo com que ele caísse de bunda no chão.
-Cara, não precisa puxar assim na hora, só se eu cair. Tenho equilíbrio, dá pra atravessar, relaxe. Qualquer coisa seguro na corda e tá tudo bem.
-Só estava tentando salvar sua vida, da próxima vez deixo você cair se ficar reclamando desse jeito. Disse Jorge que não era nenhum pouco paciente.
Eu apaziguei a situação, então Carlos subiu de novo. Ele gostava de aventuras e também de projetos sociais, então gostou da “missão” em que teria que fazer os dois ao mesmo tempo.
Pé após pé, passo após passo, Carlos ia andando, no nível mais lento possível, com os braços abertos, deixando a mostra suas caneleiras, tornozeleiras, capacete de proteção e cotoveleiras e até luvas. Se vestiu com o equipamento que uso quando vou andar de bicicleta, ainda estava aprendendo e se machucar não é lá tão legal.
Mas pra surpresa de todos que estavam olhando, quando Carlos estava perto de chegar na porta, o velho homem o puxou para dentro com força, pegou uma faca e colocou próximo ao pescoço de Carlos, que instantaneamente começou a tremer de medo e chutou a tábua deixando ela cair na imensidão do buraco.
-É o seguinte, quero fazer algumas exigências. Disse o velho senhor.
Ouvi um barulho enquanto o velho louco falava. Parecia ser o barulho da tábua batendo no em algum chão no fim do buraco.
Afinal, o buraco tinha mesmo um fim…